MINISTÉRIO DA CULTURA e PONTILHADO CINEMATOGRÁFICO apresentam

Homenagem

PROGRAMAÇÃO ESPECIAL E HOMENAGEM:
25 anos do filme Corisco & Dadá, de Rosemberg Cariry

Exibições do filme

14 a 18 de agosto de 2021

Assista em www.cinejardim.com e www.cardume.tv.br

Debate – 25 anos de lançamento

15 de agosto de 2021,  às 19h

Transmissão ao vivo no Canal de YouTube e perfil do Facebook do Cine Jardim

Sobre o filme

CORISCO & DADÁ
FICÇÃO | 74’| PB COR | 2019 | SP
DIREÇÃO: ROSEMBERG CARIRY

Sinopse: O Capitão Corisco, cognominado de Diabo Loiro, reputado pela sua crueldade, sua valentia e sua beleza, rapta Dadá, quando ela tinha 12 anos de idade, condenando-a à difícil vida do cangaço. A partir daí a vida de Corisco se transforma por completo. Corisco é um condenado de Deus cujo destino é lavar com sangue os pecados do mundo. Dadá, que a princípio odiava Corisco, vê o companheirismo, entre lutas e dificuldades, transformar-se em amor. É o amor de Dadá que humaniza Corisco e determina a sua nova história. Esse filme é a história de um amor impossível, uma visão trágica e fascinante do homem e do sertão.

FICHA TÉCNICA

Cariri Filmes. Ceará, 1996. Longa-metragem. Colorido. Ficção. Som Dolby. Bitola: 35mm. Duração: 96min. Produção, Roteiro e Direção: Rosemberg Cariry. Atores Principais: Dira Paes e Chico Diaz. Elenco: Antônio Leite, Regina Dourado, Denise Milfont, B. de Paiva, Virgínia Cavendish, Teta Maia, Abidoral Jamacaru, Rodger de Rogério, Nemésio Barbosa, Maira Cariry, Chico Alves, Bárbara Cariry. Montagem: Severino Dada. Fotografia: Ronaldo Nunes. Trilha Sonora: Toinho Alve e Quinteto Violado. Assistentes de Direção: Nirton Venâncio e Érica Bauer. Contribuição nos textos e roteiros: Oswald Barroso e Firmino Holanda. Direção de Arte e Figurino: Renato Dantas e Valmir de Azevedo.

Sobre o cineasta

Formado em filosofia (FAFIFOR) e doutorando em Belas Artes pela Universidade do Porto – Portugal, escritor e cineasta, Antonio Rosemberg de Moura, de nome artístico Rosemberg Cariry, nasceu em Farias Brito – Ceará, no ano de 1953. Começou sua carreira cinematográfica em 1975, com documentários de curta metragem sobre manifestações culturais do Ceará. No final da década de setenta realizou os seus primeiros filmes documentários profissionais. Em 1986, dirigiu seu primeiro filme de longa metragem, o documentário, A Irmandade da Santa Cruz do Deserto. No início da década de 1990 conheceu o cineasta franco-canadense Michel Régnier e com ele coproduziu, junto ao Office National du Film du Canadá, os seguintes filmes documentários: L’or de Poranga (direção de Michel Régnier, 1991), Sous les grands arbres Le Soleil Huni Kuin (direção de Michel Régnier, 1991), Le Monde de Fredy Kunz (Direção de Michel Régnier, 1991). Foi coprodutor da parte brasileira do filme canadense: Les Castors Québécois (direção de Diane Beaudry, 1992).

Em 1993, filmou A Saga do Guerreiro Alumioso, longa-metragem de ficção, finalizado com apoio da Cinequanon de Lisboa e do Instituto Português de Arte Cinematográfica (IPACA). Em 1995, Rosemberg Cariry obteve o Prêmio da Retomada do Cinema Brasileiro, do Ministério da Cultura, realizando o seu terceiro filme de longa metragem, Corisco e Dadá. O filme participou do chamado «Renascimento do Cinema Brasileiro», teve lançamento comercial em muitas cidades brasileiras e obteve inúmeros prêmios no Brasil (Gramado, Brasília e outros) e no exterior, notadamente o Prêmio do Grande Coral (3º prêmio) em Havana (Cuba) e o Prêmio Cittá del Vasto (Adventure Film Festival), na Itália. Entre os muitos festivais internacionais de que participou, destacam-se: Toronto, Trieste, Toulouse, Nantes, Pal Springs, New Delhi, Chicago e Ankara. Os seus filmes de longa-metragem participaram de Festivais e mostras de cinema em Portugal, Itália, Bélgica, França, Argentina, Turquia, Índia, África do Sul, Colômbia, Cuba, Canadá, Estados Unidos da América, Uruguai, Espanha, entre outros.

Em 1997, exerceu o cargo de Secretário de Cultura da cidade do Crato – Ceará, ocasião em que implantou o projeto de revitalização de favelas através da cultura e das artes populares (Projeto Rabo da Gata), criou o parque Histórico do Caldeirão, o Encontro das Culturas Populares do Nordeste e revitalizou grupos de cultura popular e festas tradicionais da região. Criou os projetos dos Mestres e Guardiões dos Saberes Populares e da Escola de Saberes, entre outros. Foi curador do Festival Internacional de trovadores e Repentistas, no Ceará (2004-2005).  De 1996 a 2001, fez inúmeras viagens pela América Latina e Europa, notadamente para França e Portugal.  A partir de 1999, Rosemberg Cariry realizou filmes e vídeos de curta, média e longa-metragem, bem como dirigiu vários programas, documentários e seriados para a TV aberta e por assinatura.

Paralelamente à sua atividade de cineasta, Rosemberg Cariry desenvolveu todo um trabalho como escritor e poeta, tendo publicado vários livros de poesia, contos, ensaios e estudos sobre a cultura popular do Nordeste. É jornalista e colabora com o jornal o Povo e com outros veículos de imprensa. Teve ativa participação nos movimentos artísticos e literários do Ceará e editou revistas literárias, com destaque para o jornal/revista Nação Cariri. Por ter participado amplamente da preservação do patrimônio cultural do povo brasileiro, foi reconhecido, em 1996, com o “Prêmio Rodrigo de Franco Melo Andrade/ IPHAN”, outorgado pelo Ministério da Cultura do Brasil.

Como militante em defesa da diversidade do cinema independente brasileiro, como diretor e presidente, atuou na Associação Brasileira de Documentaristas – ABD-Ce (década de 1980), Associação de Produtores e Cineastas do Norte-Nordeste – APCNN (2002-2004). Foi eleito presidente do Congresso Brasileiro de Cinema – CBC para o biênio 2009/10. Foi leito para o Conselho Superior de Cinema (MinC) no biênio 2010-2012. Foi um dos fundadores da CONNE – Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte e Nordeste (2017). Foi ativista das lutas pela regionalização da produção e um dos responsáveis pela afirmação da descentralização da produção e da diversidade do cinema brasileiro, à frente de associações e instituições representativas de realizadores do cinema independente.

Teve várias retrospectivas da sua obra cinematográfica: Mostra Rosemberg Cariry – 30 anos de Cinema, no 15.  Cine Ceará (2005); Mostra Rosemberg Cariry da CINUSP “Paulo Emílio” – Universidade de São Paulo/ Escola de Arte e Comunicação ECA – Universidade de São Paulo – 21 de novembro a 1º de dezembro de 2006. Retrospectiva Rosemberg Cariry – Festival de Cinema Internacional em Sobral (2 a 7 de dezembro de 2013). Mostra de Cinema Rosemberg Cariry no XII Seminário de Folkcomunicação e de Cultura Popular (Folkcomunicação e Cultura Popular na Sociedade Midiatizada: do audiovisual às redes sociais – 01 a 03 de junho de 2015. Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande – PB. Cinema e a Regionalização da Produção. 40 Anos de Cinema de Rosemberg CariryMostra de filmes de Rosemberg Cariry da Escola de Arte e Cultura – ECOA – Sobral-Ce (junho de 2015). A obra cinematográfica de Rosemberg Cariry teve ainda a Retrospectiva Rosemberg Cariry no 33° Festival del Cinema Latino-Americano di Trieste, na Itália, no ano de 2018.

Rosemberg Cariry é proprietário da Cariri Filmes (criada em 1986 – completa esse ano 35 anos da sua fundação) e está em plena atividade, em várias frentes da cultura e das artes. Prepara-se para rodar o Espanhol, filme de longa-metragem. Atualmente realiza três seriados para TV: Juazeiro – Chão Sagrado, A Terceira Era do Espírito Santo: a fé, a Festa e a Utopia e O poeta que veio do povo.

FILMOGRAFIA (longa-metragem)

Os Escravos de Jó – longa-metragem, ficção (2020); Noticias do Fim do Mundo – longa-metragem, ficção (2019); Os Pobres Diabos – longa-metragem, ficção (2013); Cego Aderaldo – O cantador e o Mito – longa-metragem, documentário (2012); Siri-Ará – longa-metragem – ficção (2008); Patativa do Assaré, Ave Poesia – longa-metragem, documentário (2007); Cine Tapuia – longa-metragem, ficção (2006); Lua CambaráNas Escadarias do Palácio – longa-metragem, ficção (2002); Juazeiro – A Nova Jerusalém – longa-metragem, documentário (1999); Corisco e Dadá – longa-metragem, ficção (1996); A Saga do Guerreiro Alumioso – longa-metragem, ficção (1993); O Caldeirão do Santa Cruz do Deserto – longa-metragem, documentário (1986).

Corisco e Dadá

por Marcelo Ikeda

Neste ano de 2021, em plena pandemia, Corisco e Dadá (1996), realizado pelo cearense Rosemberg Cariry, completa vinte e cinco anos de seu lançamento comercial. Essa efeméride surge, então, como uma oportunidade para promover uma revisão do filme, avaliando a sua atualidade nos tempos de hoje.

Para melhor compreender a contribuição do filme e sua importância histórica, é preciso considerar o contexto em que foi realizado. Em 1996, o cinema brasileiro ainda se recuperava dos traumáticos atos do Governo Collor que, em sua tendência neoliberal, extinguiu os órgãos de apoio ao cinema brasileiro, em especial a Embrafilme. Com a criação das leis de incentivo fiscais (Lei Rouanet e Lei do Audiovisual), o cinema brasileiro ainda estava em sua fase inicial de recuperação, num momento denominado como “cinema da retomada”.

Ainda, é preciso levar em conta os desafios para se produzir um longa-metragem de ficção fora do eixo Rio-São Paulo. Os investimentos para o cinema brasileiro sempre foram concentrados no principal eixo econômico do País, e realizar um longa-metragem em bitola 35mm no Ceará em meados dos anos 1990 era uma atividade de desbravador. Decerto, Rosemberg Cariry não era um principiante, visto que já havia realizado anteriormente dois outros longas-metragens, O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto (1986) e A saga do guerreiro alumioso (1993), este último realizado em pleno deserto instaurado em consequência da Era Collor, antes da chamada retomada.

Ainda assim, era uma tarefa hercúlea produzir um longa-metragem no Ceará em 35mm em meados dos anos 1990, sendo que boa parte dos equipamentos e do processo de pós-produção precisava necessariamente vir de outros centros. Além disso, no Ceará, havia os que defendessem que, naquele estágio de amadurecimento, era preciso priorizar a produção de filmes de produtoras já consolidadas do Rio-São Paulo que utilizassem o Ceará como cenário. Cariry, portanto, mostrou que era possível produzir não apenas no Ceará mas especialmente por cearenses um longa-metragem com repercussão nacional e internacional. O gesto de Cariry, portanto, foi fundamental para a consolidação do cinema local a partir dos anos 1990. A realização desse filme deve ser considerada como parte de um momento específico da política cultural para o estímulo ao cinema no Estado, em torno da criação do pólo de cinema e do Centro de Dramaturgia do Instituto Dragão do Mar.

Dado o contexto da época, ainda mais para os padrões do cinema cearense, tratava-se, portanto, de uma produção robusta, com uma logística de produção desafiadora, em torno de equipe e elenco expressivos, com filmagens em várias cidades no interior do Ceará, ainda que o orçamento não fosse o ideal. Corisco e Dadá deve ser percebido como parte integrante dos valores que conformam o “cinema da retomada”: a busca pelo desenvolvimento do cinema brasileiro adotando padrões narrativos em torno de um potencial de comunicabilidade, ao mesmo tempo dialogando com questões históricas e sociais de um patrimônio do cinema brasileiro. Assim, Cariry produz um filme que, em muitas medidas, dialoga e retoma o “ciclo do cangaço” no cinema brasileiro dos anos 1950/1960. Seria tentador comparar o filme com O cangaceiro (1953), de Lima Barreto, ou mesmo com Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha. O filme de Cariry me parece mais próximo do de Lima Barreto por propor o cangaço como um gênero específico, com um cinema de corte clássico, que apresenta as temáticas regionalistas por meio de uma linguagem com tendências universalizantes.

Ao mesmo tempo, 25 anos depois, me interesso particularmente em ver Corisco e Dadá para além dessa leitura classicizante, diretamente instaurada no projeto desenvolvimentista do “cinema da retomada”. Pois se o filme possui um contorno universalizante, ele é também claramente influenciado pelo universo mítico e pela cultura sertaneja de origem popular, com citações e influências a personalidades como Cego Aderaldo, os Irmãos Aniceto, e muitos outros.

Em especial, é interessante pensar como a figura de Corisco apresentada pelo filme é, em muitas medidas, totalmente apartada de um modelo de herói ou mesmo de anti-herói clássico, mas cercado de contradições. O filme não procura romantizar ou glorificar a figura de Corisco mas sim evidenciar seu trajeto de destruição e aniquilamento. O filme já começa desestabilizando a percepção de que seu protagonista é um anti-herói moral clássico. Corisco é apresentado por meio de um ato de violência, em que arranca a ainda menina Dadá do seio de sua família como um acerto de contas. A postura corporal intensa, francamente rude, quase selvagem, de Chico Diaz reforça a percepção de que Corisco é uma espécie de besta-fera.

Mesmo fruto dessa violência, Dadá irá amansar e transformar o coração de Corisco. Mas o que seria um suposto entrecho romântico também tem seus elementos esgarçados. Corisco não é totalmente transformado pela redenção romântica do amor de Dadá. No terço final do filme, é curioso como a própria narrativa mergulha num processo em espiral, anunciando um processo de desorientação de Corisco como prenúncio de sua iminente derrota, com os impactos do cansaço no percurso sem fim pelo sertão do Nordeste. Dadá sempre lembra a Corisco que eles deveriam parar e recomeçar a vida lá pelas bandas do Pantanal, onde há verde. Mas parece que o destino de Corisco é seguir em deriva por aquela terra seca e desgracenta, em meio a um cenário de morte e destruição. Corisco está longe de ser retratado como o justiceiro dos westerns americanos em sua jornada moral. Seu bando invade as cidades e o filme os mostra saqueando, abusando e violentando de forma inclemente, inclusive vítimas inocentes. Num certo ponto, Cariry parece inclinar uma certa leitura política, quando Corisco anuncia um interesse pela Coluna Prestes, ou ainda, quando queima todos os documentos do cartório que designam as cartas de propriedade da elite econômica local. Mas Corisco e Dadá não se interessa propriamente em promover um retrato político da atuação do cangaço como forma alternativa de poder, mas em apresentar estilhaços das aventuras e andanças de Corisco como uma fuga sem fim, sem teleologia, sem uma missão estrita a cumprir. Ao mesmo tempo, Cariry apresenta claramente sua própria posição crítica diante das atitudes do grupo, como no momento em que a personagem de Virginia Cavedish é condenada pelo marido, como retrato do intenso machismo determinista do grupo de cangaceiros.

Em outro momento, surge também o cinema, com uma projeção de um filme da história de Cristo, em que Lampião ordena meter bala na tela, aos moldes da lendária reação de espanto do público aos primeiros filmes de tiroteio de Edwin S. Porter, como em O grande assalto ao trem (1903), pois não era possível assistir impassível a tanta crueldade – uma certa ironia com os próprios recursos empregados pelo grupo. Ou ainda, em outro ponto, surge Benjamim Abrahão, num recurso que nos lembra de Baile Perfumado (1996), filme pernambucano filmado no mesmo período que, em certas medidas, é um filme-primo de Corisco e Dadá, embora com uma abordagem bem diferente, ao incorporar o manguebeat pernambucano como leitmotif estético.

Os protagonistas são um dos grandes trunfos do filme. Dadá conta com uma interpretação expressiva de uma bem jovem Dira Paes, que lhe rendeu seu primeiro grande papel no cinema, pelo qual recebeu o Candango de Melhor Atriz no Festival de Brasília em 1996.  Por sua vez, o Corisco Chico Diaz, já mais experiente no cinema, apresenta uma de suas performances mais viscerais, agraciado com o Kikito de Melhor Ator no Festival de Gramado do mesmo ano.

No entanto, o entrecho romântico prometido pelo título não irá se realizar por completo, mas de forma partida. Dadá irá humanizar o coração empedrado de Corisco, mas nem tanto. Corisco parece atormentado pela violência de seu passado e passa a sentir o peso da morte. Seus filhos não vingam. Não é que o ventre de Dadá seja seco, mas, naquela terra árida, os frutos nascem, porém não conseguem vingar e acabam por fenecer. A morte dos bebês é um espelho e prenúncio do destino solitário de Corisco, de seu percurso sem futuro, de sua proximidade do fim. Há um momento muito sugestivo em que o filme escapa de sua tendência realista quando o banco de Lampião e o grupo de policiais à sua caça se arrastam cambaleantes em meio a um pequeno poço de água barrenta. A terra seca e o sol inclemente se entrecruzam numa espécie de labirinto delirante que enfeitiça o homem, impotente diante de seus mistérios.

Ao final, fazendo um paralelo com o filme de Glauber, se Corisco não se entrega, ele não consegue correr solto pela caatinga do sertão, como sinal de liberdade. Sozinho, acuado, ele é encurralado no interior de um casebre abandonado, já ferido física e espiritualmente. Quase como num Bonnie e Clyde (1967), uma rajada de balas encerra o destino final da dupla de foragidos.

No entanto, há algo que fica para além do destino sem fim de Corisco. E o que fica são as mulheres. Inesperadamente, Dadá é poupada da mortandade e consegue, na justiça, recuperar os restos morais de seu companheiro. Para além disso, se o sertão não virou mar como no apoteótico final do filme de Glauber Rocha, a história de Corisco e Dadá virou mito, a ser entoado pelas contadoras de histórias nas vilas pesqueiras do Ceará. O Ceará do sertão dos cangaceiros encontra o Ceará do litoral marítimo dos pescadores. Quem os une são as mulheres, isto é, o feminino. Ou ainda, a contação de histórias, ou seja, a cultura, o desejo de criação, a narrativa de um filme. Lembramos, então, que Corisco e Dadá é na verdade narrado por uma contadora, interpretada por Regina Dourado. A trajetória de Corisco tornou-se mito, virou história, está embrenhada na paisagem cultural e nos modos de ser da vida nordestina. Virou também marco de um novo momento na paisagem árida do cinema cearense.